O mundo na tela do seus alunos
O mundo na tela do seus alunosPara o especialista em educação a distância Frederic Litto, a escola pode ganhar muito explorando o universo virtual dos jovens
Débora Didonê
A escola deixou de ser o único lugar onde os alunos buscam conhecimento. Na era da internet, a garotada leva à sala de aula novidades e informações que pesquisam no computador de casa, de um amigo, de um cyber café ou da própria escola. Por isso, é necessário descobrir maneiras de auxiliar os alunos a aprender cada vez mais por meio das inúmeras ferramentas que o mundo digital oferece.
Justamente com a ajuda de um software de bate-papo que transmite imagem e som em tempo real, entrevistamos o professor Frederic Litto, fundador e presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). A entrevista cruzou virtualmente o Oceano Atlântico: Litto está em Londres, pesquisando sobre novas tecnologias da informação para a área do ensino, e apareceu aqui, na tela de um computador em São Paulo, na redação de NOVA ESCOLA. O professor se dedica ao estudo da educação a distância desde 1957. Em 1968, escreveu um livro usando o computador - uma prática inovadora na época -, que foi publicado nos Estados Unidos. Foi lá onde ele teve os primeiros contatos com a educação a distância, assunto que o encantou. Afinal, são inúmeras as possibilidades que a tecnologia oferece para quem ensina e aprende.
Estudar, pesquisar e conversar pela internet, porém, nem sempre dá certo nas primeiras tentativas. A entrevista com o professor Litto, por exemplo, quase não aconteceu por causa de algumas falhas técnicas (leia quadro abaixo). Mas essas dificuldades iniciais são naturais - e devem ser encaradas como parte do aprendizado. Comunicar-se com alguém a milhas de distância em tempo real e sem custo algum é sem dúvida um ótimo recurso didático. Por meio de uns poucos cliques, estudiosos e especialistas de qualquer parte do mundo podem chegar à sua escola pela tela do computador - assim como Litto veio até nós. Que tal levar seus alunos a viagens como essa?
De Londres a São Paulo: pela internet, a repórter Débora Didonê entrevista em tempo real o professor Litto
NOVA ESCOLA> Quais as tecnologias da informação que começam a revolucionar os estudos na área de educação? Frederic Litto> A tecnologia mais comentada é o web 2.0, uma plataforma com a qual 20 ou 30 pessoas espalhadas pelo mundo podem trabalhar ao mesmo tempo no mesmo projeto de pesquisa. Ela permite a convergência de várias ferramentas que até agora existem isoladamente, como editores de texto e programas de reprodução de vídeo. Isso significa que o que já fazemos agora (pela internet) vai ficar muito mais sofisticado, como o contato por meio de imagem e som.
NE> Já há escolas de Ensino Fundamental usando essa tecnologia? FL> Na escola, normalmente, não há uma equipe de coordenação tecnológica para fazer implantações com essa velocidade. No final desse ano ou no início do ano que vem, o web 2,0 já estará nas universidades de maior importância. Mas dentro de um ou dois anos vamos ver os melhores colégios públicos e privados começar a implantá-lo.
NE> Que outras tecnologias a escola pode usar? FL> O celular. Num encontro (sobre tecnologia para educação) em Beijing, na China, ficou claro que em vez de proibir o seu uso é muito mais interessante criar atividades com ele na sala de aula. Por meio do celular, os alunos podem, por exemplo, entrar em contato com a biblioteca para consultar referências de livros ou as regras de empréstimo de materiais. A escola também pode mandar lembretes da administração aos alunos, um pedido de autorização dos pais para uma viagem, um aviso sobre o pagamento de taxas ou sobre uma peça de teatro que a turma irá assistir.
Outra novidade é o vortal, que é similar ao web 2.0, mas oferece mais serviços de pesquisa. Será útil para colocar num banco de dados, por exemplo, o histórico escolar dos alunos para consultas. O nível de integração do vortal é mais intenso, há menos fragmentação e o programa já é usado em universidades dos Estados Unidos. Em Stanford, todas as aulas de engenharia são gravadas em vídeo e dentro de duas horas são exibidas no vortal da faculdade.
E finalmente, os alunos podem usar o ipod (um aparelho eletrônico portátil que permite o armazenamento de vídeos e músicas). Com ele, é possível gravar toda a explicação de uma aula para poder consultá-la mais tarde.
NE> No caso do celular, o que a escola deve fazer antes de usá-lo?FL> Em primeiro lugar, é bom fazer um levantamento das necessidades dos alunos. Os professores podem organizar uma reunião com eles e perguntar que tipo de informação sobre a escola eles gostariam de receber, com que freqüência isso deveria ser feito e em que formato. É um sistema de comunicação de duas mãos. A escola só precisa de um computador e de programas simples que podem ser baixados da internet.
NE> Qual deve ser a iniciativa do professor que não sabe nada de informática? FL> Aquele que não tem computador na escola ou em casa tem que procurar um. No Estado de São Paulo há quase 500 telecentros com acesso gratuito à internet e curso de informática. No Paraná e em Minas Gerais também há. Não há desculpa para o professor ficar parado.
NE> Há uma expectativa de quando as escolas não terão mais como escapar do mundo virtual? FL> Num horizonte de 10 ou 15 anos. O impacto das novas tecnologias na educação cresce aos poucos. Metade das escolas públicas paulistas têm ao menos 10 computadores com acesso à internet. São quase 3,5 mil computadores. Uma vez que se tem essa massa crítica, as secretarias de educação passam a investir mais. Em 20 anos, dois terços das casas brasileiras terão acesso à internet. Hoje, dois terços dos brasileiros têm celular. Nosso povo é muito comunicativo e audiovisual.
NE> As informações da internet substituem o professor? FL> Quando o cinema surgiu, muitos acharam que o teatro ia acabar. Disseram que o cinema levaria as pessoas à lua, mas o teatro existe até hoje. A tevê não acabou com o cinema, nem o vídeo acabou com a tevê. O que é útil permanece útil. O professor também não será substituído. Porém, ele terá um novo papel: deixar de lado a velha característica de ser um entregador de conhecimento e tornar-se o arquiteto das atividades que o aluno fará para buscar esse conhecimento. Quem tem que suar, descobrir, pesquisar é o aluno. Se o professor entrega um prato feito, a turma não vai aprender e esquecerá tudo quando a escola terminar.
É tarefa do educador estimular a pesquisa e o espírito crítico dos alunos para que eles possam analisar, por exemplo, duas fontes de informação conflitantes na internet. Além disso, pesquisas mostram que freqüentes contatos entre alunos e professores são bons tanto para ajudar o estudante a ler nas entrelinhas quanto para fornecer a ele um modelo de comportamento.
Falhas: acontecem com todo mundoMesmo com o cuidado de instalar e testar os programas e equipamentos necessários para a conversa on-line, nós aqui na redação tivemos um problema de última hora: o programa de bate-papo do computador falhou. Rapidamente, transferimos a webcam e o microfone para outra máquina e reinstalamos os softwares necessários enquanto o professor Litto nos aguardava em sua casa, cinco horas à nossa frente, do outro lado do Atlântico. Na segunda tentativa, a instalação estava correta, mas o que falhou foi a conexão. Litto ouvia minha fala aos pedaços, como quando a antena de tevê não capta direito o som. Adiamos a entrevista por meia hora para ver se a conexão melhorava. E então, finalmente conseguimos. Nossa entrevista virtual foi um sucesso. Eu e o professor víamos e ouvíamos um ao outro, sem gastar um tostão sequer com ligação internacional. Como você pode ver, dificuldades técnicas acontecem com todo mundo. Só é preciso paciência e tempo para aprender como usar os programas.
Quer saber mais?
InternetConheça o Skype, ferramenta de comunicação em tempo real por meio de texto, vídeo e voz (para os dois últimos, é preciso ter uma webcam e um microfone instalados no computador, que têm baixo custo). O software pode ser baixado gratuitamente do próprio site e instalado em questão de segundos no computador (caso o internauta disponha de banda larga).
Para mais informações acesse o site www.novaescola.com.br
Débora Didonê
A escola deixou de ser o único lugar onde os alunos buscam conhecimento. Na era da internet, a garotada leva à sala de aula novidades e informações que pesquisam no computador de casa, de um amigo, de um cyber café ou da própria escola. Por isso, é necessário descobrir maneiras de auxiliar os alunos a aprender cada vez mais por meio das inúmeras ferramentas que o mundo digital oferece.
Justamente com a ajuda de um software de bate-papo que transmite imagem e som em tempo real, entrevistamos o professor Frederic Litto, fundador e presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed). A entrevista cruzou virtualmente o Oceano Atlântico: Litto está em Londres, pesquisando sobre novas tecnologias da informação para a área do ensino, e apareceu aqui, na tela de um computador em São Paulo, na redação de NOVA ESCOLA. O professor se dedica ao estudo da educação a distância desde 1957. Em 1968, escreveu um livro usando o computador - uma prática inovadora na época -, que foi publicado nos Estados Unidos. Foi lá onde ele teve os primeiros contatos com a educação a distância, assunto que o encantou. Afinal, são inúmeras as possibilidades que a tecnologia oferece para quem ensina e aprende.
Estudar, pesquisar e conversar pela internet, porém, nem sempre dá certo nas primeiras tentativas. A entrevista com o professor Litto, por exemplo, quase não aconteceu por causa de algumas falhas técnicas (leia quadro abaixo). Mas essas dificuldades iniciais são naturais - e devem ser encaradas como parte do aprendizado. Comunicar-se com alguém a milhas de distância em tempo real e sem custo algum é sem dúvida um ótimo recurso didático. Por meio de uns poucos cliques, estudiosos e especialistas de qualquer parte do mundo podem chegar à sua escola pela tela do computador - assim como Litto veio até nós. Que tal levar seus alunos a viagens como essa?
De Londres a São Paulo: pela internet, a repórter Débora Didonê entrevista em tempo real o professor Litto
NOVA ESCOLA> Quais as tecnologias da informação que começam a revolucionar os estudos na área de educação? Frederic Litto> A tecnologia mais comentada é o web 2.0, uma plataforma com a qual 20 ou 30 pessoas espalhadas pelo mundo podem trabalhar ao mesmo tempo no mesmo projeto de pesquisa. Ela permite a convergência de várias ferramentas que até agora existem isoladamente, como editores de texto e programas de reprodução de vídeo. Isso significa que o que já fazemos agora (pela internet) vai ficar muito mais sofisticado, como o contato por meio de imagem e som.
NE> Já há escolas de Ensino Fundamental usando essa tecnologia? FL> Na escola, normalmente, não há uma equipe de coordenação tecnológica para fazer implantações com essa velocidade. No final desse ano ou no início do ano que vem, o web 2,0 já estará nas universidades de maior importância. Mas dentro de um ou dois anos vamos ver os melhores colégios públicos e privados começar a implantá-lo.
NE> Que outras tecnologias a escola pode usar? FL> O celular. Num encontro (sobre tecnologia para educação) em Beijing, na China, ficou claro que em vez de proibir o seu uso é muito mais interessante criar atividades com ele na sala de aula. Por meio do celular, os alunos podem, por exemplo, entrar em contato com a biblioteca para consultar referências de livros ou as regras de empréstimo de materiais. A escola também pode mandar lembretes da administração aos alunos, um pedido de autorização dos pais para uma viagem, um aviso sobre o pagamento de taxas ou sobre uma peça de teatro que a turma irá assistir.
Outra novidade é o vortal, que é similar ao web 2.0, mas oferece mais serviços de pesquisa. Será útil para colocar num banco de dados, por exemplo, o histórico escolar dos alunos para consultas. O nível de integração do vortal é mais intenso, há menos fragmentação e o programa já é usado em universidades dos Estados Unidos. Em Stanford, todas as aulas de engenharia são gravadas em vídeo e dentro de duas horas são exibidas no vortal da faculdade.
E finalmente, os alunos podem usar o ipod (um aparelho eletrônico portátil que permite o armazenamento de vídeos e músicas). Com ele, é possível gravar toda a explicação de uma aula para poder consultá-la mais tarde.
NE> No caso do celular, o que a escola deve fazer antes de usá-lo?FL> Em primeiro lugar, é bom fazer um levantamento das necessidades dos alunos. Os professores podem organizar uma reunião com eles e perguntar que tipo de informação sobre a escola eles gostariam de receber, com que freqüência isso deveria ser feito e em que formato. É um sistema de comunicação de duas mãos. A escola só precisa de um computador e de programas simples que podem ser baixados da internet.
NE> Qual deve ser a iniciativa do professor que não sabe nada de informática? FL> Aquele que não tem computador na escola ou em casa tem que procurar um. No Estado de São Paulo há quase 500 telecentros com acesso gratuito à internet e curso de informática. No Paraná e em Minas Gerais também há. Não há desculpa para o professor ficar parado.
NE> Há uma expectativa de quando as escolas não terão mais como escapar do mundo virtual? FL> Num horizonte de 10 ou 15 anos. O impacto das novas tecnologias na educação cresce aos poucos. Metade das escolas públicas paulistas têm ao menos 10 computadores com acesso à internet. São quase 3,5 mil computadores. Uma vez que se tem essa massa crítica, as secretarias de educação passam a investir mais. Em 20 anos, dois terços das casas brasileiras terão acesso à internet. Hoje, dois terços dos brasileiros têm celular. Nosso povo é muito comunicativo e audiovisual.
NE> As informações da internet substituem o professor? FL> Quando o cinema surgiu, muitos acharam que o teatro ia acabar. Disseram que o cinema levaria as pessoas à lua, mas o teatro existe até hoje. A tevê não acabou com o cinema, nem o vídeo acabou com a tevê. O que é útil permanece útil. O professor também não será substituído. Porém, ele terá um novo papel: deixar de lado a velha característica de ser um entregador de conhecimento e tornar-se o arquiteto das atividades que o aluno fará para buscar esse conhecimento. Quem tem que suar, descobrir, pesquisar é o aluno. Se o professor entrega um prato feito, a turma não vai aprender e esquecerá tudo quando a escola terminar.
É tarefa do educador estimular a pesquisa e o espírito crítico dos alunos para que eles possam analisar, por exemplo, duas fontes de informação conflitantes na internet. Além disso, pesquisas mostram que freqüentes contatos entre alunos e professores são bons tanto para ajudar o estudante a ler nas entrelinhas quanto para fornecer a ele um modelo de comportamento.
Falhas: acontecem com todo mundoMesmo com o cuidado de instalar e testar os programas e equipamentos necessários para a conversa on-line, nós aqui na redação tivemos um problema de última hora: o programa de bate-papo do computador falhou. Rapidamente, transferimos a webcam e o microfone para outra máquina e reinstalamos os softwares necessários enquanto o professor Litto nos aguardava em sua casa, cinco horas à nossa frente, do outro lado do Atlântico. Na segunda tentativa, a instalação estava correta, mas o que falhou foi a conexão. Litto ouvia minha fala aos pedaços, como quando a antena de tevê não capta direito o som. Adiamos a entrevista por meia hora para ver se a conexão melhorava. E então, finalmente conseguimos. Nossa entrevista virtual foi um sucesso. Eu e o professor víamos e ouvíamos um ao outro, sem gastar um tostão sequer com ligação internacional. Como você pode ver, dificuldades técnicas acontecem com todo mundo. Só é preciso paciência e tempo para aprender como usar os programas.
Quer saber mais?
InternetConheça o Skype, ferramenta de comunicação em tempo real por meio de texto, vídeo e voz (para os dois últimos, é preciso ter uma webcam e um microfone instalados no computador, que têm baixo custo). O software pode ser baixado gratuitamente do próprio site e instalado em questão de segundos no computador (caso o internauta disponha de banda larga).
Para mais informações acesse o site www.novaescola.com.br
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