Artigo no caderno D+
Pessoal,
Saiu hoje, no Estado de Minas, artigo baseado na conversa que tivemos sobre a Cicarelli, a convergência e a educação.
Aí vai.
Abraços,
Lorena
OPINIÃO DA PROFESSORA
Escola fora de sintonia
Lorena Tárcia
Professora de jornalismo do UNI-BH e mestranda em educação pela PUC Minas
Educação e convergência de mídias fazem parte de uma mesma realidade, a do mundo digital, em que dados e informações correm pelas veias da web, formatando novos modelos de comunicação e novos públicos. Entre esses públicos, estão os alunos da escola do século 21.
A escola, em muitos casos, falhou em acompanhar gerações alfabetizadas pela linguagem audiovisual da TV. De maneira geral, sempre aproveitou pouco as tecnologias de comunicação. Muitos alunos que chegam hoje ao ensino superior têm dificuldades em entender a escrita e com ela se expressar. São de uma geração marcada pelas imagens.
Os desafios que se impõem são, agora, ainda maiores. Instituições de ensino, professores e alunos precisam trilhar caminhos que evitem a distância entre a realidade fora da escola e aquela solidificada nas salas e mentes de professores, que teimam em se acomodar.
O vídeo de Daniella Cicarelli e seu namorado na internet, em recente episódio que atraiu a atenção do público, me ensinou algumas importantes lições. Apesar da tentativa do site YouTube de excluir as cenas com conteúdo erótico, dezenas de outros arquivos contendo o vídeo foram postados e uma rede instantânea de anônimos informantes logo identificou onde e como assistir às imagens.
Naquela semana, em minhas aulas, tratava do uso da internet como fonte de informação e localização de fatos e notícias de credibilidade na rede. Apesar da dificuldade de alguns em realizarem os exercícios de busca de dados propostos, nenhum deles encontrou entraves para localizar e assistir às cenas protagonizadas pela modelo brasileira e seu namorado em águas espanholas.
Naquele momento, meu aluno pesquisou, leu, assistiu, comentou, analisou, debateu, registrou, não esqueceu. E mais: sentiu-se motivado! Não seria esse o sonho de todo professor e até mesmo da mídia tradicional? Concordo que o erotismo das cenas e o sabor da fofoca, aliados à notoriedade à qual Cicarelli foi elevada, após seu casamento com Ronaldo Fenômeno e separação quase instantânea, contribuíram para tornar o vídeo ainda mais atrativo. Mas beldades, escândalos e fofocas acontecem todos os dias.
O que chamou minha atenção foi o fato de a informação ter circulado rapidamente pela internet, levando a mídia tradicional a correr atrás da notícia. Ao final, Cicarelli acabou me mostrando que precisamos repensar a escola. Os alunos que nela estão fazem parte de uma geração que inova a comunicação a cada momento. Passamos do ponto em que comunicávamos de um para muitos, através das mídias de massa.
Dizia o educador Seymour Papert que se trouxermos um médico do século 19 para um hospital atual, ele ficará espantado com tantas mudanças. Porém, diz Papert, se trouxermos um professor daquele mesmo século para a sala de aula de hoje, ele se sentirá praticamente à vontade. O mundo muda, a escola permanece. O aluno muda, a didática se mantém. A comunicação se revoluciona e os textos escolares continuam estáticos. O mundo se torna cada vez mais polifônico; são mais e mais imagens, cores em profusão. Enquanto isso, na sala de aula, persiste o monótono som da voz única do professor e a monocromia do preto no quadro branco.
Cicarelli empolga e, de repente, percebemos que estamos fora de sintonia. Mas nunca é tarde para nos conectarmos a esse aluno e suas novas linguagens. Que venham outras Danielas e novas lições. Mas que a escola esteja preparada para aprendê-las. E que avancem as escolas e estejam em alerta os professores para não perderem o bonde da história da nossa maior ferramenta de trabalho e de conexão: a comunicação.
Fonte: http://www.em.com.br/emonline/estaminas/suplementos/dmais/199172.html
Saiu hoje, no Estado de Minas, artigo baseado na conversa que tivemos sobre a Cicarelli, a convergência e a educação.
Aí vai.
Abraços,
Lorena
OPINIÃO DA PROFESSORA
Escola fora de sintonia
Lorena Tárcia
Professora de jornalismo do UNI-BH e mestranda em educação pela PUC Minas
Educação e convergência de mídias fazem parte de uma mesma realidade, a do mundo digital, em que dados e informações correm pelas veias da web, formatando novos modelos de comunicação e novos públicos. Entre esses públicos, estão os alunos da escola do século 21.
A escola, em muitos casos, falhou em acompanhar gerações alfabetizadas pela linguagem audiovisual da TV. De maneira geral, sempre aproveitou pouco as tecnologias de comunicação. Muitos alunos que chegam hoje ao ensino superior têm dificuldades em entender a escrita e com ela se expressar. São de uma geração marcada pelas imagens.
Os desafios que se impõem são, agora, ainda maiores. Instituições de ensino, professores e alunos precisam trilhar caminhos que evitem a distância entre a realidade fora da escola e aquela solidificada nas salas e mentes de professores, que teimam em se acomodar.
O vídeo de Daniella Cicarelli e seu namorado na internet, em recente episódio que atraiu a atenção do público, me ensinou algumas importantes lições. Apesar da tentativa do site YouTube de excluir as cenas com conteúdo erótico, dezenas de outros arquivos contendo o vídeo foram postados e uma rede instantânea de anônimos informantes logo identificou onde e como assistir às imagens.
Naquela semana, em minhas aulas, tratava do uso da internet como fonte de informação e localização de fatos e notícias de credibilidade na rede. Apesar da dificuldade de alguns em realizarem os exercícios de busca de dados propostos, nenhum deles encontrou entraves para localizar e assistir às cenas protagonizadas pela modelo brasileira e seu namorado em águas espanholas.
Naquele momento, meu aluno pesquisou, leu, assistiu, comentou, analisou, debateu, registrou, não esqueceu. E mais: sentiu-se motivado! Não seria esse o sonho de todo professor e até mesmo da mídia tradicional? Concordo que o erotismo das cenas e o sabor da fofoca, aliados à notoriedade à qual Cicarelli foi elevada, após seu casamento com Ronaldo Fenômeno e separação quase instantânea, contribuíram para tornar o vídeo ainda mais atrativo. Mas beldades, escândalos e fofocas acontecem todos os dias.
O que chamou minha atenção foi o fato de a informação ter circulado rapidamente pela internet, levando a mídia tradicional a correr atrás da notícia. Ao final, Cicarelli acabou me mostrando que precisamos repensar a escola. Os alunos que nela estão fazem parte de uma geração que inova a comunicação a cada momento. Passamos do ponto em que comunicávamos de um para muitos, através das mídias de massa.
Dizia o educador Seymour Papert que se trouxermos um médico do século 19 para um hospital atual, ele ficará espantado com tantas mudanças. Porém, diz Papert, se trouxermos um professor daquele mesmo século para a sala de aula de hoje, ele se sentirá praticamente à vontade. O mundo muda, a escola permanece. O aluno muda, a didática se mantém. A comunicação se revoluciona e os textos escolares continuam estáticos. O mundo se torna cada vez mais polifônico; são mais e mais imagens, cores em profusão. Enquanto isso, na sala de aula, persiste o monótono som da voz única do professor e a monocromia do preto no quadro branco.
Cicarelli empolga e, de repente, percebemos que estamos fora de sintonia. Mas nunca é tarde para nos conectarmos a esse aluno e suas novas linguagens. Que venham outras Danielas e novas lições. Mas que a escola esteja preparada para aprendê-las. E que avancem as escolas e estejam em alerta os professores para não perderem o bonde da história da nossa maior ferramenta de trabalho e de conexão: a comunicação.
Fonte: http://www.em.com.br/emonline/estaminas/suplementos/dmais/199172.html
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